O parto do meu primeiro filho foi maravilhoso… chegou ao mundo de forma respeitosa e com muito amor e carinho, na banheira da maternidade…
Mas depois de algum tempo eu fui revendo o parto como um todo e percebi que não havia sido exatamente como eu planejava… quase nada na vida é como planejamos… eu cheguei com muita dor na maternidade, e a médica plantonista havia acabado de entrar em uma cesárea, e não havia ninguém para me atender… e a recepção da maternidade lotada… e a doula no trânsito… e isso foi me deixando mais nervosa o que foi intensificando as dores que eu estava sentindo… logo pedi analgesia pois não queria mais sentir aquela dor toda… e depois de 2 horas do efeito da analgesia constatou-se que o trabalho de parto não tinha evoluído, então fui pra ocitocina sintética… e não queria mais analgesia pq queria sentir meu filho chegando ao mundo… a partir daí tudo ficou muito intenso e pouco me lembro….
Então quando pensei num próximo filho, eu não queria analgesia, eu não queria nenhuma intervenção… não foi legal pra mim e sei que não foi legal pra ele também… e no meio desses pensamentos todos estreou o filme “O Renascimento do Parto”, fomos todos assistir, meu marido Caio, meu filho Theo (com 2 meses então) e eu… e começamos a cogitar um parto domiciliar… pq não? Garantia de que não haverá intervenções… garantia de que não ficarei nervosa e as dores poderão não ficar tão intensas…
Mas era muito cedo ainda… de qualquer forma a sementinha estava plantada…

Então quando finalmente engravidei do 2º, fui atrás de um GO que fosse a favor de parto domiciliar, dr. Pablo Queiroz, e conversamos bastante com ele sobre esse assunto e a cada consulta ele nos convencia de que realmente era o melhor para a mãe e o bebê…
Mas ainda tinha uma questão que me incomodava um pouco… moramos em apartamento… e os vizinhos? E os meus gritos? Será que vou ficar à vontade?
Fui então numa roda sobre Parto Domiciliar na Casa Gestar, com as queridas Cris da Ros (que veio a ser minha doula) e Camilla Dassan, e foi excelente, pois lá haviam recém pais contando suas experiências de PD… e sobre PDs em apartamentos… e nos deram várias dicas, como mandar cartinhas aos vizinhos por exemplo contando nossos planos para o parto. E após ouvir tantos relatos com tantas experiências maravilhosas ficou decidido que iríamos querer um parto domiciliar.

Aí nas últimas semanas, só na expectativa do parto, na consulta de 38+5 semanas, o Dr. Pablo percebe que o bebê (decidimos que só iríamos descobrir o sexo no nascimento, então vou chamar de “o bebê”) estava sentado… pois é… sentou… estava cefálico a gestação toda e resolveu sentar… entrei em pânico… encaro um parto pélvico?? Encaro uma cesárea?? E meu parto domiciliar?? E agora?? Como esse bebê foi sentar??
Marcamos a VCE – versão cefálica externa (procedimento que consiste em virar o bebê pelo lado de fora da barriga) para o dia seguinte, com 38+6 semanas… quase 39… ai ai ai… será que não é tarde? Geralmente se faz com 37 semanas… e se o bebê estiver muito grande e não virar??
Chegamos na maternidade, fizemos a internação e ficamos aguardando, eu super nervosa… me deram a medicação… logo o Dr. Pablo veio no nosso quarto, fez o us e confirmou que o bebê estava sentado… colocou uma mão no bumbum do neném, a outra na cabeça, empurrou o bumbum para cima, e foi girando devagar e com força, sem tirar as mãos, e pronto… simples assim o bebê estava cefálico novamente!! Que alegria!! Tudo voltando ao planejado e sem pânicos… só o us que fiz 2 dias depois para confirmar que ainda estava cefálico, mais 2 visitas da Cris (a doula) para confirmar que estava cefálico, mais uma consulta com o Dr. Marcos (pai do Dr. Pablo) para confirmar que estava cefálico… mas paranoias de grávidas… faz parte…

O PARTO
Longas 40 semanas de gestação, vários sustos, várias encanações… e nada do bebê querer nascer… Aí a gente já começa a achar que não vai nascer nunca… dizem que o 2º vem mais cedo que o primeiro… mas é mentira, meu primeiro veio com 40+2 semanas… e nada desse segundo dar o ar das graças…
Até que, com 40+4 semanas acordo as 7 da manhã com contrações… ufa o bebê está vindo… só confirmar mais uma vez que está cefálico mesmo hehe…
Já mando whats para a Cris que o bebê estava a caminho, já aviso a Elisa (a fotógrafa) para se programar que era hoje… e deixo o marido dormir mais um pouquinho…

Meu mais velho acordou logo depois de mim, e quando acorda cedo fica mal-humorado, nisso o Caio acordou também, avisei que estava com contrações que ele já fosse preparando tudo para o parto pq eu ia sair com o Theo que ele estava mal-humorado, o Theo ficou brincando aqui na rua com o amiguinho Ben até que as dores começaram a ficar mais fortes, era umas 10:30 e as contrações começavam a vim das costas…
Então voltamos para casa, a Cris (doula) passou aqui para ver como eu estava, disse que logo ia engrenar, que ela tinha umas coisas para fazer na rua e logo voltava… Nesse meio tempo ficamos trocando whats, ela disse que toda a equipe já estava avisada e vindo para cá (ela, o Dr. Pablo, e a Elisa, a fotógrafa), eu falei que achava que era cedo ainda, as contrações estavam bem doloridas, mas bem espaçadas e irregulares, numa média de 10 minutos…

Mesmo assim logo ela veio, e quando chegou as contrações já estavam de 3 em 3, logo chegou o Dr. Pablo e em seguida a Elisa. Isso era umas 14 horas, meu marido foi buscar almoço com o meu mais velho, enquanto a Cris me ajudava no alívio da dor e o Dr. Pablo enchia a banheira. Assim que encheu e a água ficou numa temperatura amena eu entrei. O Theo quis entrar comigo, colocou a sunga, mas só de molhar a perna desistiu, ele não gosta de água quente, e de manhã tinha ralado o joelho e quando molhou reclamou de dor, então ficou do lado de fora junto com o Caio segurando minha mão.
Depois que entrei na banheira ali fiquei… não queria mais me mexer, só queria ficar lá… as contrações vinham muito fortes, bem como uma onda mesmo, começavam fracas, ficavam mais intensas e passavam… eu demorei um pouco para me entregar, no começo só queria que a dor passasse, não conseguia respirar, doía demais… mas com o tempo fui me entregando e entendendo a respiração… fui deixando a contração vim, focando no bebê, quando sentia que vinha uma contração já inspirava fundo e começava a vocalizar… a intensidade da voz era proporcional à dor que eu sentia nas contrações, umas eram bem fracas, outras eram como um caldo no mar cheio de ondas na hora que entra a série… mas ficaram mais espaçadas de novo, e cheguei até a dormir entre uma e outra…

Meu filho começou a ficar assustado e achamos melhor que ele fosse brincar na casa do amiguinho, assim o Caio poderia focar mais em mim… e o Dr. Pablo também, que já tinha assumido a função de babá
Todos diziam que logo o bebê vinha… mas não estava mudando muito o cenário… o dr. Pablo perguntou se eu queria saber em quanto estava a dilatação, falei que sim desde que estivesse com pelo menos 8… ele fez o toque q disse que estava com 8 (mas vai saber) e que a bolsa não havia estourado, mas que assim que estourasse iria nascer… Perguntou se eu queria que ele a estourasse, explicou a importância do bebê ter contato com a mãe no nascimento, apesar de ser lindo o nascimento de um bebê empelicado… mas naquela hora não conseguia tomar nenhuma decisão… achei melhor esperar o expulsivo e ver o que iria acontecer e decidir depois…

Até que veio a vontade de ir ao banheiro… eu já estava querendo mudar de posição, mas a dor era tanta que eu preferia não me mexer… só queria que tudo acabasse e que eu fosse deitar na minha cama para descansar, e aí podia continuar no dia seguinte…
Bom, nisso aproveitei para sair da piscina e fui ao banheiro, mas era só o bebê querendo nascer mesmo… então sentei na bola, e nos intervalos das contrações a Cris me ajudava a rebolar… E lá fiquei por mais um tempo… vem contração… vai contração… rebola…

E comecei a sentir que se ficasse ali o bebê não ia nascer, precisava levantar, precisava ficar em pé… então pedi para o Caio me ajudar a ficar em pé, nisso veio uma contração bem forte e ele me abraçou… em seguida PLOC… SPLASH!!! A bolsa estourou!! Cena de novela… Foi demais!
No exato instante que a bolsa estourou senti a cabeça do bebê coroar e urrei (não gritei, urrei mesmo) AAAAAHH O BEBÊ VAI NASCER! O BEBÊ VAI NASCER! E comecei a fazer muita força… O Dr. Pablo havia ido na varanda relaxar, a Cris foi chamá-lo, ele entrou e falou que eu não fizesse tanta força e que me agachasse, colocaram uma cadeira atrás de mim para o Caio sentar e me segurar por trás e foram me ajudando a agachar… eu por mim nem me mexia e o bebê nascia ali mesmo, comigo em pé… então agachei fiz uma força e a cabecinha saiu, o dr. Pablo me pediu que fizesse força novamente, mas eu não estava com vontade, estava cansada, sem condições e falei que não conseguia… ele disse que não tinha “não consigo”, e que eu tinha que fazer força… na hora achei que fosse para não lacerar o períneo, e como ele é o médico obedeci… 2 dias depois só que ele contou que o bebê teve uma distócia de ombro, ou seja, a cabecinha saiu mas o ombro ficou preso, então ele fez uma manobra e eu precisava fazer força naquela hora senão o bebê poderia entrar em sofrimento…

E o bebê nasceu! Sensação mais maravilhosa do mundo parir um filho em casa… e só ouço meu marido: “É uma menina!!!” Oq? Não! Pera! Eu que queria descobrir! Me deixa ver!! É uma menina!! Uma menina!! Uma menina!! Não acredito uma menina!! E veio para o meu colo, e a Cris já a colocou para mamar…

Eu só queria então deitar na minha cama com ela, forraram a cama com plástico e lençóis descartáveis e nos ajudaram a ir até lá… e lá ficamos… nos namorando… só depois que a placenta saiu, e o Caio cortou o cordão, que o Dr. Pablo fez os exames nela e pesou… 3,800 Kg… que bebezão!! Períneo íntegro… sem pontos…